Boias frias - a dura rotina

É madrugada e uma legião de brasileiros já está pronta para começar mais um dia de trabalho pesado. Vestidos com muitas camadas de roupas, sempre com mangas compridas, lenços, bonés e chapéus, trazem nas mãos muitas marcas e seguram marmitas enroladas em panos de prato, protegendo assim, o alimento para o almoço. A comida (ou boia), que sai de casa quentinha, é armazenada em caldeirõezinhos ou vasilhas sem qualquer proteção térmica. Na maioria das vezes, não há como esquentá-las, então são ingeridas frias. Daí vem a denominação ‘boia fria’, dada os trabalhadores rurais responsáveis pela colheita das diversas culturas produzidas nos campos do país. Esses trabalhadores trazem nos rostos as marcas de uma vida sofrida, enfrentando o sol a pino e os perigos da lida: cobras, foices e outros instrumentos utilizados no trabalho. Na maioria das vezes as condições são precárias. O transporte, sobre o pau-de-arara ou ônibus rurais sem condições de tráfego, já inspira uma rotina onde há que se apegar a algo, nem que seja apenas à fé. Analfabetos ou semialfabetizados, são geralmente moradores do campo, subúrbios ou de estados onde as condições de sobrevivência difíceis os levam a procurar trabalho em regiões onde haja grandes plantações para colheita. Ganham por produção e muitas vezes, para aumentar os rendimentos, se submetem a esforços que o corpo não está preparado para suportar, sendo muitos os casos de morte. Em alguns casos, uma nova realidade toma conta da vida dos trabalhadores rurais: o crack. A droga chegou ao campo, transformando pessoas em máquinas de colheita manual. Consomem a droga para aguentar a dura jornada e produzir mais, e enquanto isso, a droga os consome. O campo está mudando e os trabalhadores também. Automação, máquinas modernas, tecnologia, vem substituindo o trabalho de muitos boias frias. Qualificação profissional é necessária e, uma nova gama de trabalhadores rurais são encontrados nos campos. Mas, em um país de extensão territorial tão grande como o Brasil, o trabalho braçal,  manual, quase artesanal, dificilmente será extinto.