ARQUIVO SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Joaquim Moreira, um compositor da música raíz

Por Toninho Cury

Joaquim Moreira da Silva, um dos últimos gigantes da composição sertaneja raiz, escreveu através da sua música, um pouco da história do nosso povo, em especial sobre nossa região.

Nascido aos 08 de Dezembro de 1920, em Vila Novaes, foi registrado na mesma data, mas em 1921, em Paraíso. Segundo Joaquim, em Vila Novaes, não havia cartório, apenas em Paraíso, e para “fugir  de uma multinha”, seu pai esperou um ano para registra-lo.

Sempre foi pobre e morou na roça. Até os 15 anos de idade “cantava modas aprendidas”, isto é, “coisas de outros compositores e cantadores”.

Daí para frente, aflorou em suas veias o dom de compor e não parou mais. Hoje, aos 91 anos, ainda tem inspiração para escrever.

Suas composições foram gravadas por duplas famosas de nossas raízes, como: “Charanga e Chará”, “Zé do Rancho e Zé do Pinho”, “Pedro Bento e Zé da Estrada”, “Vieira e Vieirinha”, “Liu e Léu”, “Divino e Vanzetti”, “Taviano e Tavares”, “Roberto e Meirinho”, entre muitos outros.

Foi a dupla “Tião Carreiro e Pardinho” que gravou uma “pérola”, a música “Rio Preto de Luto”, em que, Joaquim Moreira, retrata a perda de grandes personalidades rio-pretenses e dos estudantes na tragédia do Rio Turvo, nos dois anos considerados “negros” em Rio Preto, 1959 e 1960.

A música "Rio Preto de Luto", já havia sido gravada pela dupla  “Garcia e Zé Matão”, mas sem muito sucesso. A letra era um pouco diferente e começava assim: “Hoje o povo de Rio Preto, vive muito aborrecido”. Então, Tião Carreiro, que adorou a música, sugeriu que a gravaria com uma pequena modificação na letra. Joaquim concordou e ficou assim: “Rio Preto e toda região, vive muito aborrecida”.

Joaquim Moreira compôs mais de 200 músicas. Muitas gravadas e com sucesso na época áurea da verdadeira música sertaneja de raízes.

Todo seu talento, é também direcionado aos  “Três Reis Magos do Oriente”. Conhecedor profundo da história sobre o nascimento de Jesus, já escreveu dois livros e está concluindo o terceiro sobre a visita dos reis magos à manjedoura.

É convidado de honra em todas festas de “Reis”, “Encontros de Bandeiras” e “Folias de Reis”, este último título, não muito aprovado pelo “mestre”, por achar um pouco pejorativo, pois, o “nascimento do filho de Deus”, nada tem a ver com “folia”.

 

Para homenageá-lo, publicamos na íntegra, sua “Rio Preto de Luto”:

 

"Rio Preto e toda região vive muito aborrecida

De uns certo tempos pra cá quantos golpes tem sofrido

Quantos homens de valores a cidade tem perdido

Seus nomes ficaram na História gravado em nossa memória

E jamais será esquecido

 

Quantas perdas irreparáveis quase que num tempo só

As derrotas foram tantas falo apenas das maior

Doutor Anísio Moreira da vizinha Mirassol

Na selva de Mato Grosso caiu n'água num destroço

A morte não teve dó

 

Num desastre na Bolívia Miltom Verde e seu cunhado

A bordo de um avião fizeram um pouso forçado

Lá viveu setenta dias do mundo desamparado

Triste fim teve os dois homens morreram de sede e fome

Completamente isolados

 

O Doutor Bady Bassitt ilustre batalhador

Pela Nossa Rio Preto não poupava o seu labor

Lutava pelo progresso com carinho e com amor

Mas por uma infeliz sorte foi tragado pela morte

Aumentando a nossa dor

 

Meus prezados e ouvinte amigo isso tudo não foi só

A morte também levou Doutor Alberto Andaló

Das derrotas rio-pretense foi uma das mais pior

Ex-prefeito e deputado lutava desesperado

Por um Rio Preto melhor

 

Rio Preto também perdeu o Coutinho Cavalvante

Morreu o Doutor Jafét outra figura importante

Nas águas do Rio Turvo cinqüenta e nove estudantes

Meus Deus tenha piedade defenda nossa cidade

E também seus habitantes"