Perfil

TONINHO CURY
UMA VIDA EM PRETO E BRANCO


O ano é 1970. Em São José do Rio Preto, 450 km de São Paulo, o jovem Antonio José Cury tem contato com sua primeira máquina fotográfica: uma Yashica Mat profissional. Seu mestre, o fotógrafo rio-pretense Nestor Brandão, proprietário do Foto Studio, tinha uma máquina igual. “Você gosta de fotografia?”, perguntou Brandão a Toninho. “Então você já é fotógrafo.”

Foi dessa forma que Toninho Cury ingressou no imprevisível mundo da fotografia. Logo iniciou um curso no Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo, e a partir daí passou a participar de salões de fotografia nacionais e internacionais.
Apaixonado pelo trabalho em preto e branco, Toninho Cury acumulou nesses quarenta anos como fotojornalista, um acervo com mais de 4.000 imagens em negativos que contam muito da história de São José do Rio Preto e do Brasil. Sem contar o vasto material em slide, negativo colorido e digital, formando um arquivo de valor histórico surpreendente.
Política, fé, tradições, cultura, esporte, arte, sociedade, natureza, atualidades, tudo vira um fiel retrato da realidade ao olhar de Toninho Cury. Realidade com muita poesia e inspiração, seja no fotojornalismo ou no trabalho artístico.

O resultado? Além da exposição de seu trabalho em dezenas de países, Toninho Cury participou de mais de 200 salões nacionais e internacionais de fotografia, acumulando inúmeros prêmios entre medalhas de ouro, prata, bronze e menções honrosas. É um dos raros fotógrafos brasileiros a ter um trabalho no acervo do Musée Français de la Photographie, em Brieves.
Não são apenas imagens captadas com muita técnica e sensibilidade que fazem o diferencial no trabalho de Toninho Cury. A história de cada cena transparece em todos os detalhes.
Desde 1995, Toninho Cury se dedica a retratar a fé do povo brasileiro. Começou acompanhando Folias de Reis. Viaja junto aos romeiros, dorme em alojamentos precários, absorve a misticidade e profundidade da devoção peregrina. Envolveu-se completamente nesse riquíssimo, subjetivo e complexo tema. Alugou barco para subir o velho São Francisco a fim de fotografar benzedeiras e acompanha de perto todas as manifestações de fé que acontecem no Brasil. Todos os casos e acasos que ocorrem em suas viagens, Toninho Cury retrata nas inúmeras palestras e exposições sobre seu trabalho.
Até quando vai estudar e fotografar as manifestações da fé? “Só quando o último clique der aquela sensação de trabalho finalizado”, o que, em sua opinião, é muito difícil.

Família

Neto de imigrantes libaneses, Toninho Cury nasceu aos 25 de junho de 1953. É membro de uma família de expoentes em áreas como política, medicina, advocacia, jornalismo, música, negócios e magistério. Os Cury participaram ativamente da vida política em São José do Rio Preto e no Brasil, ocupando cadeiras na Assembléia Legislativa do estado de São Paulo e na Câmara de Vereadores de São José do Rio Preto. A influência dos Cury vai muito além dos cargos eletivos conquistados. Como família tradicional, participou ativamente do crescimento da cidade, ora permutando áreas da família, ora tentando evitar erros históricos, como o da construção da rodoviária de São José do Rio Preto.
Por ter vivenciado todas as transformações e os acontecimentos sociais e políticos no município, Toninho Cury desenvolveu desde cedo uma paixão ímpar por história, especialmente pelos acontecimentos que cercam a vida em São José do Rio Preto e região, despertando assim, seu talento como documentarista.

Paixões

Toninho Cury é um homem de muitas vertentes. Além de fotógrafo, é documentarista, advogado, administrador de imóveis e músico autodidata. Foi o fundador do Grupo "Apocalipse", um dos mais famosos da cidade. Mas nada supera o prazer em poder sair com suas Leica e Nikon para eternizar imagens.
Foi assim, com a câmera na mão, que Toninho Cury captou flagrantes da vida cotidiana, como a fuga do lobo Guará de uma queimada, cenas de violência urbana, como o ataque do vendedor de mel ao Delegado de Polícia, o calvário completo sobre a queda do Edifício Itália e implosão das Torres Portugal e Espanha, em São José do Rio Preto, inúmeros ângulos da vida e trabalho dos “boias-frias”, além de acontecimentos históricos como a campanha pelas “Diretas Já!”, e o movimento por uma nova Constituição, ocorrido no Largo de São Francisco, em São Paulo

Por que o preto e branco?

Assim se capta melhor a emoção da imagem. Só se chega na alma da pessoa ou da situação fotografando por meio do preto e branco. A técnica do preto e branco é muito mais complexa que a do material colorido, uma vez que as cores enganam a leitura e percepção de uma foto. Com a fotografia digital as coisas mudaram bastante. Tudo ficou mais fácil, mas o profissional acaba perdendo as lições que apenas a escola do negativo em preto e branco consegue ensinar.

 

Assim é Toninho Cury.