Memória apagada

São Paulo/SP, 17 de Dezembro de 2010 - por Toninho Cury

No último dia 16, foi ao chão, o casarão datado de 1913, que ficava nas confluências das Ruas Augusta com Dona Antonia de Queiros, em São Paulo, Capital.

Pouco se sabe quem morou no velho casarão. Mas, nos anos 50, 60 e 70, o local era o luxo do paulistano e cartão de visita dos lojistas locais, época que não existiam shopping centers. A Rua Augusta, também, nos anos 60, era frequentada pelos adeptos da “Jovem Guarda”, e fonte inspiradora do compositor, maestro e advogado mineiro, Hervé Cordovil, que compôs um rock tupiniquim,“Rua Augusta”, ícone da MPB, verdadeira “oração hippye” e que em sua letra original, versava a "200 km/h". Nos anos 70, com a maior rigidez no controle da velocidade nas estradas do Brasil, o grupo "Os Mutantes", modificou o verso para "120 km/h", que, época da ditadura, diziam que foram obrigados a pedido dos sensores. Até hoje, permanece esta última versão.

Durante muitos anos, funcionou no casarão, um boteco, a barbearia do seu Felipe e um cafezinho, que era muito frequentado por artistas e políticos, entre eles Ulisses Guimarães e Fernado Henrique.

Em homenagem póstuma ao local demolido, transcrevo a obra e arte de Hervé Cordovil.



Rua Augusta


Subi a Rua Augusta a 200 por hora
Botei a turma toda do passeio pra fora
Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina
Parei a quatro dedos da vitrine
Hi, hi, Johnny
Hi, hi, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo
Hi, hi, Johnny
Hi, hi, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo
Meu carro não tem luz, não tem farol, não tem buzina
Tem três carburadores, todos os três envenenados
Só para na subida quando acaba a gasolina
Só passo se tiver sinal fechado (Que legal!)

Hi, hi, Johnny
Hi, hi, Alfredo
Quem é da nossa gang não tem medo