São Luiz do Paraitinga festejou no último final de semana sua tradicional festa do “Divino Espírito Santo” e para lá viajei, como faço há alguns anos.
Localizada no Vale do Paraíba, São Paulo, São Luíz é também conhecida por realizar um dos melhores Carnavais do país. A festa de “momo”, por lá, é animada só por marchinhas.
Terra de caipiras, de “criadores” de sacy-pererês, de congadeiros a violeiros, berço de gente de grandes talentos, como o médico sanitarista Oswaldo Cruz, o cientista Aziz Ab’ Saber, o músico e maestro Elpídio dos Santos - grande parceiro de Mazzaropi em seus filmes, do Grupo Musical Paranga, do músico e produtor artístico Galvão Frade, do fotógrafo e amigo Chinica, do valente e heróico pessoal do rafting, dos poetas, dos artesãos, enfim, um “mundaréu” de gente importante e acolhedora.
Desde primeiro de Janeiro do ano passado, quando um forte temporal destruiu sua Igreja Matriz e outras edificações históricas, parece que uma nuvem de tristeza se alojou por aquelas bandas.
Monsenhor Tarcísio, um verdadeiro “porto seguro” dos luizenses partiu para o descanso eterno. Filho da cidade, por lá se ordenou e desenvolveu seu sacerdócio por mais de sessenta anos.
Enfermo, devido sua idade, no leito, quando soube do desmoronamento da Matriz de São Luiz de Tolosa, ao contrário do que se esperava, disse: “milagre, milagre, graças ao bom Deus não houve sequer uma vítima fatal perante grande estrago”. De fato, um homem de muita fé e divindade.
Minha viagem que era para registrar mais uma vez as belezas da “Festa do Divino”, acabou se transformando em um diário de notas tristes. Começou com a notícia da morte de Dona Cinira, conhecida carinhosamente por “Vó Nira”. Viúva de Elpídio dos Santos, era uma artesã de mão cheia. Com as filhas, fazia grandes artes sob a marca “Cai e pira”, cujos afrescos ultrapassaram as fronteiras do país. Era também mãe do músico e compositor “Negão”, do Grupo Paranga, que não só toca músicas de Elpídio dos Santos, como também grandes preciosidades de nossas raízes.
O “Império”, local sagrado onde se guarda as bandeiras do Divino e as coroas, teve sua baixa. O senhor Geraldo Polião, que há mais de cinqüenta anos embalava e distribuía os tradicionais saquinhos de sal com os “santinhos” do Divino, faleceu. No altar, uma justa homenagem lhe foi prestada com dois cartazes com fotos de sua última participação na festa.
Grandes figuras que fizeram de São Luíz um local ímpar, também partiram após a tragédia de primeiro de Janeiro. Caso de “Galvanzão”, pai de Galvão Frade. Dona Cecília Bilar, da “Vila São Vicente”, que durante boa parte de sua vida, se dedicou cuidar de velhos e enfermos, também nos deixou.
Já ao anoitecer do dia 09 de Junho, após o baque das notícias recebidas, sob um frio de 12ºC e um cansaço incrível após dirigir mais de 600 quilômetros em uma viagem com chuva e neblina, fui até um barzinho às margens do rio Paraitinga tomar um chocolate quente.
Para minha surpresa, avistei, encostado em uma das portas, o senhor “Dorvo”, que há mais de 50 anos foi cozinheiro mór do “Afogado”, a comida distribuída no Sábado que antecede o dia do Divino, para as mais de trinta mil pessoas de todo Vale do Paraíba que participam da festa.
Contente por encontrá-lo e ao mesmo tempo surpreso em não estar presente com sua turma na “picança da carne”, perguntei, o por quê de sua ausência? Então, abraçando-me apertadamente e com os olhos marejados, respondeu: “desta vez não fui convidado”. Aí, não me contive e às margens do Paraitinga eu e meu velho amigo choramos juntos nossas perdas.