Publicado quarta-feira, 2 de abril de 2014
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Com oito meses de governo Sarney, em Novembro de 1985, ainda sob reflexos da “chibata” dos militares, no início da transição para a democracia, eis que surge o “Ballet Stagium” com um espetáculo denominado “Missa dos Quilombos”.
Os textos eram de Pedro Casaldáglia, Pedro Tierra e Fernando Brandt. Gente considerada “pesada” segundo as regras ditatoriais. Música de Milton Nascimento e Fernando Brandt e coreografia de Décio Otero e Marika Gidali, diretores do “Stagium”, completavam o time.
Havia nu no palco e fotografar o espetáculo, nem pensar. Coisa rara em épocas de censuras.
Estive em São Paulo no início de 1985 e consegui do diretor, Décio Otero, aval para fotografar o espetáculo em Rio Preto, agendado para Novembro daquele ano.
Meu encontro com Décio, se deu por acaso no “MASP”.
Foi durante uma reunião que tive com o então fotógrafo e amigo, André Bocato, que trocou as câmeras pela cozinha. Hoje, é um gourmet em Paris de fama internacional.
Me lembro bem, o André entrou na conversa e disse: “deixe o menino fotografar o ballet. Conheço o seu trabalho. Ele não vai sacanear em nada”. Um pedido do André tinha muito peso. Era bem relacionado no meio artístico e cultural em todo estado. Um fotógrafo e intelectual respeitado. Otero pensou por alguns segundos e em seguida, veio a resposta: “pode sim! mas por favor, espere um tempo para expor as imagens ao público”. Trato feito. Trato cumprido.
Fotografei a apresentação e durante muitos anos guardei o material.
Hoje, posto duas fotos na boa no face, pois cenas de seios de fora são comuns até em horários nobres da tv.
“A Missa dos Quilombos” percorreu as principais capitais do país e o Teatro de Rio Preto foi contemplado em dar “o ponta pé inicial” da turnê.