Publicado quinta-feira, 3 de março de 2011
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Foi no dia 25 de Abril de 1997, no Teatro do SESC-Rio Preto, durante o projeto denominado, “Pixinguinha: um choro de cem anos”, em comemoração ao centenário de um dos maiores maestros que o país conhecera, que fiz a foto que ilustra a capa do CD “Alento”.
Em um tiro certeiro, o SESC convidou nosso maestro Paulo Moura, com seu conjunto “Os Batutas”, composto por Zé da Velha, no trombone, Jorginho do Pandeiro, entre outros, para encerrar o evento.
Foi uma noite mágica de chorinho, gafieira, samba e música instrumental, onde Paulo Moura conseguia um alquimismo musical, transformando suas partituras em palavras e a sonoridade de seu instrumento em poesia.
Na plateia, Paulo Moura tinha amigos de sua infância, parentes e um grande público admirador da boa música.
Muitas vezes, durante o show, ao contar passagens da sua vida em Rio Preto, da sua casa na rua XV de Novembro, era interrompido pelos amigos relembrando fatos pitorescos do passado.
Estavam presentes nesse dia, o senhor Aristides dos Santos, líder negro e conhecedor profundo da cultura afro e que foi vizinho de Paulo Moura, Mestre Boca, um músico eclético, Fernando Marques, importante historiador, compositor e produtor musical e muitos outros artistas.
Lembro-me também da presença, na plateia, dos médicos Dr. Dalmo Araújo e Dr. Liberato Caboclo, prefeito na época, em companhia de seu secretário da cultura, o jornalista Waldner Lui.
Após o término do show, Liberato e Lui, foram até o camarim, e convidaram o maestro Paulo Moura para participar de um festival que levasse seu nome.
Com sua simplicidade, Paulo pensou por uns segundos com a mão no queixo e disse: “Um festival Paulo Moura?!”, Lui e Liberato replicaram, “sim, com seu nome e você terá liberdade para selecionar os convidados”. Convite feito, convite aceito.
O festival foi realizado e até hoje, é considerado um dos maiores festivais, onde se reuniu grandes mitos da MPB do país.
Voltando à foto da capa, durante o show, ao solar a música “Carinhoso”, de Pixinguinha, artista que Paulo Moura muitas vezes acompanhou em shows, o maestro ficou tão emocionado com a participação do público que cantava junto com “Os Batutas”, que largou de seu clarinete e começou a cantar, regendo todos os presentes.
Seus olhos brilhavam. Da posição em que eu estava, abaixo do palco, dava a sensação que o maestro flutuava como um anjo regendo um coral. Disparei uns três fotogramas, não mais que isso.
Gostei tanto da foto, que enviei a ele pelo correio, em um tamanho 13x18.
Passaram alguns dias, Paulo Moura e sua esposa Halina me enviaram uma carta, dizendo que adoraram a foto. Me pediram autorização para que fosse reproduzida em cartazes de uma turnê do maestro pela Europa.
Fiz as documentações de praxe, uma nova cópia em tamanho maior e lá estava minha foto percorrendo clubes e teatros europeus.
Infelizmente, nosso querido Paulo Moura faleceu.
No ano passado, recebi um e-mail da sua esposa Halina e outro da gravadora “Biscoito Fino”, me convidando para participar de um CD que estava sendo produzido para homenagear Paulo Moura, autorizando o uso da foto que diziam ser uma das prediletas do maestro, para ilustrar o CD. Pediram também que eu relatasse algo sobre o momento em que a foto foi tirada.
Reenviei a foto nas proporções solicitadas e lá do “fundo”, retirei um depoimento.
No dia seguinte, Halina me liga no celular, emocionada, dizendo: “é a foto da capa e se depender de mim, o CD se chamará “Anjo”, como você disse no texto”.
Taí o CD, com minha foto, sob o título “Alento”.
Queira ou não, é um “Anjo”, pois é uma “energia”, uma imensa mensagem de um grande músico que jamais morrerá.
Valeu !!!
Toninho Cury