Publicado quarta-feira, 6 de abril de 2011
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No início dos anos 70, o fotoclubismo brasileiro entrou em total decadência.
Naquela época, as coisas que aconteciam no exterior, levavam muito tempo para chegar aqui. Por lá, a decadência do fotoclubismo já estava acontecendo desde o início dos anos 60.
Com a decadência dos fotogrupos, os associados que optaram pela profissão de fotógrafos migraram aos jornais.
A fotografia de jornal, na época denominada “periodística”, era feita por grandes fotógrafos de escolas de fotografias e foto grupos, até então conhecidos como amadores, tansformados em profissionais da imprensa.
Essa conquista dos fotógrafos de cine clubes ocorreu em face ao grande conhecimento e formação profissional, através de estudos de técnicas e linguagem, até então desconhecidos pelos fotógrafos e editores de grandes jornais.
A entrada desses profissionais nas redações deu outra roupagem aos jornais. Além dos textos bem elaborados (na época, eram rígidas as seleções de repórteres, e muitos profissionais liberais como advogados, médicos, engenheiros etc, faziam parte do staff dos jornais), passou a ter imagens fortes e bonitas dos fatos.
A imagem a cada dia falava por si. Eram raras as legendas. O jargão de que “uma imagem vale por mil palavras” passou a fazer parte na boca dos leitores.
A partir daí, os fotoclubes brasileiros lutaram muito para permanecerem ativos. Parecia que nada mais havia de novo. Tudo estava superado e fora de moda. Seus associados, tão ferrenhos em salões e concursos, estavam mais preocupados em conquistar um espaço em um bom jornal ou revista para divulgar seus trabalhos.
Foi nessa transição, à procura do novo, que o fotoclubista entrou no laboratório para manipular melhor suas imagens.
Fazia de tudo, fotomontagem, solarização, tone-line, posterização e, o mais simples, o alto contraste, que não era tão fácil assim. Veja abaixo:
No processo, o filme mais utilizado, era o “Kodalith”. Usado em fotolitos, mais conhecido como sistema frio de impressão, já que seu antecessor, o clichê, era conhecido como quente.
A função do filme “Kodalith”, na fotografia em alto contraste, era eliminar os meios tons, isto é, o cinza de uma fotografia convencional em preto e branco.
Muito difícil e complexo em manuseá-lo, merecia tratamento especial que poucos conheciam.
Primeiro, o “Kodalith” é um filme rígido, isto é: duro e mais grosso. É de tamanho, textura e forma diferentes.
Segundo, é orthocromático. Não é sensível a luz vermelha, ao contrário do filme convencional que é pancromático. Se manuseado sob luz vermelha, causa danos irreversíveis.
Terceiro, são usados reveladores diferentes. São de alcalinidades e de tempos variáveis.
Por último, a grande dificuldade em adquiri-lo. Como não era vendido em lojas de materiais fotográficos, só era possível comprá-lo no “mercado negro”.
O fotógrafo dependia da boa vontade de donos de gráficas para comprar, já que vinha em pacotes fechados com 100 ou 200 folhas.
Pagava-se por uma folha na medida 50x60 cms, o equivalente a doze filmes convencionais de 36 poses branco e preto.
Dessa folha, eram cortados pedaços no tamanho aproximado desde um fotograma convencional, até 4x5 cms e daí, partia-se aos testes.
O resultado final era uma foto com um branco e um preto puríssimos.
Outros detalhes para finalização como retoques em “abdek”(pasta de retoque), raspagem e muitas vezes, um rebaixamento com químicos fortes. Enfim, um trabalho cansativo e muito caro.
Hoje, com a tecnologia digital, basta acionar umas teclas e alguns ajustes no computador que o alto contraste está feito.
A foto acima, do pescador, foi feita recentemente na represa municipal de Rio Preto. É uma fotografia captada com uma câmera digital de bolso. Sua elaboração levou apenas três minutos.
Em tempos passados, levaria de quatro a oito horas e seu resultado não seria tão satisfatório como é hoje através da tecnologia digital.
Toninho Cury