Publicado domingo, 3 de julho de 2011
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Quando pequeno, pensava que aquele imponente mausoléu cravado na entrada do “Cemitério da Ressurreição”, na Vila Ercília, era o túmulo dos combatentes da “Revolução de 32”.
Entrei na escola e de lá para cá, passei a entender melhor a história.
A Revolução Constitucionalista, constitui o episódio capital das lutas democráticas que se travaram após a “Revolução de 1930”.
Foi um movimento revolucionário ocorrido no Brasil em 1932, abrangendo os estados de São Paulo e Mato Grosso, e com repercussões em outros pontos do território nacional.
Rio Preto e região recrutaram aproximadamente 600 homens para o combate.
A “Guerra Paulista”, como aprendi no grupo escolar, era por uma constitucionalização do país.
Minha professora dizia: “Havia sido uma guerra desleal. Nossos soldados não tinham armas suficientes. Usaram desde foices e rojões (para imitar tiros), até pedaços de paus e pedras. Foi uma batalha desleal e todos sabotaram nosso Estado. Mas era para todos nos orgulharmos por São Paulo, porque se existe ordem e progresso, boas escolas, justiça e paz, devemos aos nossos heróis de 32”.
Guardei isso dentro de mim, como guardo o beabá e a tabuada. Coisas da infância que carregamos por toda vida.
O tempo passou, a gente cresceu e o mundo mudou.
Hoje temos a internet e neste blog coloco uma pesquisa que sempre tive vontade de fazer mas não havia espaço para tal.
Então, vamos lá :
O Mausoléu ao Soldado Constitucionalista foi feito pelas mãos do artista campineiro, Hélio Coluccini, em 1937. Foi fixado na entrada do “Cemitério da Ressurreição”. No ano de 1968, foi transferido para a Praça Rio Branco, em frente ao nosso Fórum.
Ainda relembrando minha escola, a professora dizia que as tropas rio-pretenses, haviam saído do antigo “1º Grupo Escolar de Rio Preto”, posteriormente, “Cardeal Leme”, e hoje, o Fórum. Portanto, o Mausoléu está posicionado no local onde foram alinhadas as tropas. Será que a sua transferência tem algo a ver com essa história?
São Paulo tinha 8.500 soldados. Seiscentos soldados eram da região de Rio Preto.
O então presidente Getúlio Vargas, enviou para cercar os revolucionários, 18.000 homens bem aparelhados com o que havia de melhor no mercado bélico da América do Sul.
A guerra foi sangrenta e durou três meses.
Nesse período, Rio Preto e região perderam 9 soldados em combates.
Abaixo, publico em primeira mão para toda Rio Preto, pequenas biografias de nossos heróis, conforme dados colhidos por Oswaldo Bretas Soares e publicado pelos historiadores Dr. Benedicto Montenegro e Alberto Aguiar Weissohn no livro denominado “Cruzes Paulistas”, de 1936, seguindo a mesma grafia utilizada na época:
+ANTONIO AMARO - Portuguez de nascimento, Antonio Amaro ha muito se integra com a nossa gente da cidade e do sertão. Morava em Tanaby. Iniciada a Revolução, fez parte da comissão local do M.M.D.C. , a efficientissima organização da rectaguarda.
Não ficou satisfeito, porém, com o valioso auxilio que ali prestava. Quis fazer mais. E, conhecedor da região de Porto do Taboado, tornou-se guia das tropas commandadas pelo Cap.José Teixeira Pinto. A 12 de Agosto, ia elle à frente da tropa, próximo ao córrego do Jacú Queimado, quando, ao frontear a residência do sr. João Wensceslau, uma força adversária atacou-a de surpreza.
Antonio Amaro foi o primeiro a cahir, com um ferimento na cabeça, morto ao mesmo instante. Seu corpo foi pelos adversários jogado ao rio Paraná, sem que os remanescentes da tropa que elle guiava, o 1º batalhão de Rio Preto, pudessem dar-lhe sepultura christã.
DADOS BIOGRAPHICOS - Nascera Antonio Amaro em Castello Velho, Portugal, a 24 de Abril de 1891, filho do sr. Eduardo Amaro e de d.Anna Amaro. Casado com d.Christina Martins Amaro, era commerciante e proprietário em Tanaby. Brasileiro naturalizado, exercera, por vezes, cargos públicos naquella cidade paulista.
+CARMO TURANO - ( Voluntário) - Em Ignácio Uchôa, Carmo Turano incorporou-se à 2ª. Cia de Guerra “Alta Araraquarense”, sub-unidade do batalhão “Francisco Glycerio”, columna Romão Gomes, partindo com ella, a 19 de Julho, para a frente da São José do Rio Pardo, sob o commando do cap.Elpidio Silveira. Ferido gravemente durante a retirada de Gramma, falleceu em São José do Rio Pardo a 17 de Setembro. Sepultado naquella cidade, em Outubro do anno seguinte, foram seus restos trasladados para Cedral, onde reside sua família. Conquistara em campanha as divisas de sargento e aureolou a sua morte com um halo de heroísmo, pois suas últimas palavras foram um viva a São Paulo !
DADOS BIOGRAPHICOS - Carmo Turano – “Carminho”, como era conhecido entre os íntimos e os camaradas de campanha – nascera em Rio Preto a 4 de Outubro de 1910, filho do sr. Francisco Turano e Rosa Petreca Turano. Solteiro, tinha não obstante, vastas relações sociaes. Deixou os seguintes irmãos: Salvador, industrial em Ignácio Uchoa; d.Maria, casada com Vicente Garisto; d.Isolina, casada com Vicente S.Galante, também combatente de 32; d.Antonietta, casada com o dr.Alvaro Réa; d.Assumpta, casada com Vicente Victagliano; e senhorinha Luiza Turano.
+ ELYDIO ANTONIO VERONA - ( Voluntário) – A 1ª Cia do 3º batalhão “9 de Julho”, depois de operar em Eleutério, Espírito Santo e Jaguary, estava, em fins de Setembro, na Fazenda Japoneza, situada entre Jaguary e Campinas. Elydio Antonio Verona, que fazia parte do 3º pelotão, durante um momento de tréguas, deixou, com outros companheiros, a trincheira, em busca de alimentação. Ao voltarem, foram surprehendidos pela fuzilaria adversária, fora da trincheira. Defenderam-se, respondendo ao tiroteio, estendidos no chão. Um projectil apanhou Verona no alto da cabeça, sahindo-lhe pela nuca. Foi sepultado no próprio local.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascera Elydio a 10 de Julho de 1913 em Santa Eudoxia, comarca de São Carlos, filho do sr.José Verona e de d.Elisa Verona Pazzin. Commerciante, com curso da Escola de Commercio “Pedro II”, residia, como seus irmãos Avelino, Mathilde, Santo, Mario e Casemiro Verona, em Rio Preto.
+ IPIROLDES MARTINS BORGES – (Voluntário) – No primeiro batalão constituído em Rio Preto, Ipiroldes Martins Borges apresentou-se. Sua incorporação deu-se a 20 de Julho, sendo inscripto na 3ª companhia, sob o número 137. Em virtude de sua extrema juventude, tanto a sua família como o commando do Regimento de Rio Preto fizeram opposição ao seu alistamento. Tudo foi inútil. A decisão do jovem foi irrevogável. Nada poude cohibi-lo. Seguiu para a zona de combate. Luctou bravamente. Porem um mez depois, precisamente em 20 de Setembro, no sector de Jaguary, foi attingido por uma bala de fuzil no peito, morrendo instantaneamente. Seu sepultamento deu-se em Carlos Gomes.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Serra Azul, neste Estado, a 22 de Fevereiro de 1915, era filho de João Martins Borges e de d.Emilia Martins Borges. Deixou os seguintes irmãos: Alípio, Octavio, Helena, Agenor, Emygdio, Liria, Cynira, Maria de Lourdes e Rosa.
Exercia a profissão de mechanico.
+ JOÃO BAPTISTA DE ARAUJO – (Voluntário) – Icorporado em Rio Preto, logo no início das operações, João Baptista de Araújo seguiu para a zona Leste, como soldado do batalhão “Voluntários de Rio Preto”.Foi um valente e um disciplinado defensor da causa constitucionalista. Morreu em pleno combate, no dia 10 de Setembro, na Fazenda Guedes, em Campinas, de um ferimento produzido por bala de fuzil. Sua morte deu-se instantaneamente, sendo sepultado junto a um bambual onde tombara.
DADOS BIGRAPHICOS – Nasceu em Franca, no dia 8 de Fevereiro de 1898, filho do sr. João Delphino de Araújo e d.Maria C.de Jesus. Era casado com d.Maria Conceição Araújo e deixou quatro filhos menores: Helena,Célio,Christina e Sylvia.
Exercia a profissão de motorista
+ JOAQUIM MARQUES DE OLIVEIRA – (Voluntário) – Incorporado em Rio Preto, no batalhão “Voluntários de Rio Preto”, Joaquim Marques de Oliveira, sob o comando de Luiz de Mello, seguiu para a frente no dia 10 de Agosto. Este não morreu na trincheira, mas nem por isso o posto era de menor honra. Foi ferido de morte dentro de seu aultomóvel, quando conduzia alguns officiaes para a frente de combate entre Porto Taboado e Lussanvira. Foi attingido na cabeça por bala de F. M. , morrendo instantaneamente.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nasceu em Uberaba, Estado de Minas. Apparentava a idade de 25 annos, era solteiro e motorista de profissão.
+ MANOEL DA VISITAÇÃO PITTA JUNIOR – (Voluntário) – Nas rodas de seus íntimos de seus camaradas de trincheira, Manoel da Visitação Pitta Junior, era mais conhecido como “Nenê Pitta”. Assim ficou elle conhecido entre os componentes do batalhão de Novo Horizonte, ao qual se incorporara a 27 de Julho no posto de Cabo, e com o qual partira, logo depois, para Porto Taboado, na fronteira de Matto Grosso. No primeiro combate alli travado, Nenê Pitta foi ferido a bala, ficando seu corpo no local denominado “Jacú Queimado”. Suppõe-se que tenha sido sepultado pelas forças adversárias.
DADOS BIOGRAPHICOS – Filho do sr.Manoel da Visitação Pitta e de Sophia Magdalena Pitta, era nascido em Ibitinga a 10 de Maio de 1887. Casado, deixou uma filha de nome Sophia Aparecida. Eram seus irmãos: José Honório, Mamede, Emília, Georgina, Julia, Alcindo, Álvaro, Maria e Olga Pitta.
+ OSWALDO SANTINI - (Força Publica) – Destacado para uma patrulha de reconhecimento nas proximidades de Porto do Taboado, o Cabo Oswaldo Santini, do 3º B.C.P. de Força Publica, que até dias antes fora chefe de uma M.P. da defesa anti-aerea da Capital paulista, foi visado e morto por tropas adversárias munidas de armas automáticas, a 12 de Agosto. Sepultaram-no no próprio local onde cahira. Posteriormente, seu corpo foi trasladado para Rio Preto, onde se encontra.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Ubatuba, filho do sr.Jorge Santini e de d.Evarista Garcia Santini, Oswaldo tinha 20 annos de edade e era solteiro. Deixou os seguintes irmãos: Jorge, casado com Dolores Santini; d.Lydia, viúva da Castoamor Simões; Carlos, casado com d.Aurora Santini; d.Maria,casada com Nicola Capece; José, Dinorath,Ercílio,Ivone,Décio e Ary Santini.
+ TOTÓ DUARTE (Antonio Duarte da Fonseca) – (Voluntário) – Com a 3ª cia. Do 4º Bat.9 de Julho, Totó Duarte, como elle era conhecido, partia , a 28 de Agosto, para frente mineira de combate. Poucos dias poude luctar.
A 4 de Setembro, em combate no morro do Gravy, sub-sector de Itapira, um estilhaço de granada matou-o. Sua carreira foi curta. Bastou, porém, para demonstrar-lhe o valor.
DADOS BIOGRAPHICOS – Nascido em Tambahu, a 20 de Outubro de 1905, era Antonio filho do sr. Francisco Duarte da Fonseca, residente em Santos. Casado com d.Jandyra Medeiros Duarte, deixou um filhinho de poucos dias de idade. Tinha os seguintes irmãos: Alfredo, Antonia, Apparecida, Benedicto, Lourdes e Marietta Duarte da Fonseca. Possuía senso do civismo em alto grau. Em 1930, foi um dos primeiros a se apresentar para o combate aos revolucionários de então. Era commerciante em café e cereas.
Toninho Cury