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Coisas da Ditadura

Publicado quarta-feira, 17 de agosto de 2011

1 comentários

Dia 16 de Agosto de 2011, Terça-feira, um marco na história de São José do Rio Preto.

Os fatos acontecidos me lembraram dois mestres da fotografia brasileira:Evandro Teixeira, para o “Jornal do Brasil”, com sua fotografia durante o movimento contra a Ditadura Militar, na Praça da Candelária do Rio de Janeiro, mais conhecido como o “Comício dos 100 mil”, onde Evandro, com sua Leica M3, retratou, no meio da multidão, uma faixa com os dizeres, “abaixo a ditadura -povo no poder”; e Jorge Araújo, para a“Folha de São Paulo”, cuja foto feita em comício na Praça da Sé, São Paulo, era uma pomba pousada em uma faixa com os mesmos dizeres. Estas fotos, em preto e branco, tornaram-se hinos aos olhos dos amantes das imagens.

Na época, os jornais não imprimiam imagens em cores e a televisão transmitia em preto e branco.

 

Agora, em 2011, vinte e seis anos depois do fim da ditadura, durante a votação do Projeto de Lei do Executivo, na Câmara Municipal, que permite a contratação de mais de 200 pessoas pelo poder público municipal, sem a realização de concurso, fiquei do lado de fora da “Casa de Leis” fotografando as centenas de manifestantes que foram protestar e tive as mesmas sensações de quando comecei a fotografar nos anos 70, os ditos “anos de chumbo”.

Durante a ditadura, qualquer posição contrária ao poder, era motivo para o exército e polícia militar reprimirem os “rebeldes” com o uso da força.

O povo se organizou e com os movimentos “Diretas Já!” e“Fora Collor!”, a história do país foi reescrita.

Rio Preto me fez reviver os anos 70: A “Greve do ABC”, “Muda Brasil!”, “Diretas Já!”, “Por uma nova Constituição” e “Fora Collor!”.

 

Em um momento em que o rio-pretense não pôde entrar na Câmara Municipal, denominada “Casa do Povo”, para protestar contra um projeto de lei, não havia como publicar uma foto em cores.

Tudo dos “anos de chumbo” se repetiu: proibição ditatorial àqueles que pernoitaram para adquirirem senhas para entrar na Câmara e acompanhar a sessão;“agentes ou estranhos”, infiltrados, filmando e fotografando líderes estudantis, igualmente como fazia o "DOPS"; excesso de policiais; espingardas de alto calibre; cães adestrados e batalhão de choque na rua. Um verdadeiro aparato de guerra.

O pior de tudo foi que os vereadores, representantes importantes do Regime Democrático, nada fizeram para que o povo entrasse à Casa de Leis. O mesmo povo que os elegeu para dar voz a sua soberana vontante. Coisas da ditadura.

De fato, o “preto e branco” sempre deverá estar presente em momentos como esse da história do Brasil.


Toninho Cury

Comentários - 1
Valéria Cabrera - 18/8/2011
Toninho, sua sensibilidade falam mais que mil palavras... Ainda assim, você deu um relato brilhante do ontem, hoje e quem sabe como será o amanhã...talvez "o astro". Parabéns!!! Abs Valéria