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A história da construção da rodoviária

Publicado quinta-feira, 19 de abril de 2012

2 comentários



Para se entender o "Caso da Rodoviária" de São José do Rio Preto, é necessário conhecer um episódio que marcou a política rio-pretense nos anos 70: a ação popular movida pelo advogado Gabriel Cesário Cury, meu tio, contra a criação das Secretarias Municipais, pelo prefeito municipal Adail Vetorazzo.
Criadas ilegalmente pelo então prefeito municipal, as Secretarias Municipais, segundo a petição apresentada por Gabriel Cesário Cury, constituíam atos nulos e lesivos ao patrimônio público, pois confrontavam o artigo 43, do Decreto-Lei complementar nº 9, de 31/12/69 (Lei Orgânica dos Municípios), que dispunha que "somente será permitida a existência de secretarias municipais nos municípios com população superior a cento e cinqüenta mil habitantes e com receita orçamentária, realizada no exercício anterior, de mais de trinta milhões de cruzeiros novos". Não podia então, o prefeito municipal criar as Secretarias, uma vez que São José do Rio Preto não preenchia nenhum dos requisitos estabelecidos na Lei Orgânica dos Municípios. Desta forma, o autor da Ação Popular, Gabriel Cesário Cury, requeria:

a) que a ação fosse julgada procedente e as leis que criaram as Secretarias fossem anuladas;
b) que fossem devolvidos aos cofres públicos municipais, os numerários indevidamente levantados pelas Secretarias Municipais;
c) intimação ao sr. prefeito municipal para que suste o pagamento às Secretarias Municipais.

Ação foi ajuizada no dia 30 de Junho de 1970. Julgada improcedente em primeira instância, a Ação Popular foi julgada procedente em 2ª instância, por unanimidade de votos, sendo determinada a extinção das Secretarias Municipais (30 de Junho de 1972) e o acórdão foi publicado no dia 27 de Setembro de 1972. Foi uma grande derrota para o prefeito Adail Vetorazzo e, a partir daí, tem início o "Caso da Rodoviária".

Transcrito aqui, está capítulo do livro "Fragmentos do Passado", de Gabriel Cesário Cury, Editora Direito, 1999, onde o autor escreve sobre o episódio da rodoviária:

"Logo após a extinção das Secretarias Municipais, o prefeito municipal de Rio Preto, prof. Adail Vetorazzo, anunciou a implantação de uma estação rodoviária nas imediações da Estação da EFA (Estrada de Ferro Araraquarense). Houve protesto geral da população contra o local escolhido, defronte à ferroviária, local acanhado e situado em baixada imprópria, insuficiente para obra daquele porte.
Mas, apesar dos protestos, o projeto foi aprovado e o prefeito não chegou a ficar relutante. Iniciou a desapropriação dos imóveis para começar a construir.
O povo tem mais sensibilidade do que se imagina. Notou embutida na atitude do prefeito, uma vingança contra certo familiar do autor das Ações Populares. Oitenta por cento dos imóveis que estavam sendo desapropriados pertenciam ao marido de minha irmã, que foi grande empresário, figura popular, famoso por sua filantropia.
Protestei contra a iniciativa do prefeito, através do matutino que albergava as boas causas, o Diário da Região, que acolhia bem todas as denúncias, como a de um laudo elaborado por engenheiro de renome, que denunciava a Avenida Alberto Andaló como incapaz de suportar o tráfego de veículos pesados. Hoje, em cada quarteirão do asfalto da Avenida Andaló, surgem buracos que exigiram (e ainda exigem) dispendiosos serviços de recuperação da via.
O local, onde foi situada a estação rodoviária, era de fato inadequado. Construída, embora venha há anos sofrendo duramente com as enchentes, uma vez que o Rio Preto sempre alagou nessa área. Tínhamos sugerido que fosse erguida na antiga Praça Cívica, hoje Praça Leonardo Gomes. E em outros locais. Mas o prefeito teimou em fazer a rodoviária nos terrenos que desejava desapropriar por mera vingança pessoal. Gastou o dinheiro do povo à toa. Hoje, esperamos que sobre algum para uma nova rodoviária. O tempo se incumbe de dizer quem tem razão. Os homens públicos passam, mas seus erros e delírios custam caro ao povo que os paga."


Concluindo, os anos se passaram, mudaram os governantes, a cidade cresceu e os problemas persistiram. Alagamentos, excesso de ônibus circulando nas principais avenidas, manobras difíceis e acessos de passageiros complicados.
A prepotência, a teimosia e falta de capacidade daqueles que lutaram em prol da construção da estação rodoviária onde foi construída, está viva e muito incomoda no dia a dia daqueles que dependem dos serviços de embarque e desembarque.
Portanto, vamos ficar de olho no local onde será erguida a nova estação rodoviária.
O debate, um refinado estudo de profissionais competentes e a opinião da população, são muito importantes para que erros grotescos não mais aconteçam.

Toninho Cury

Comentários - 2
Beto Carvalho - 20/4/2012
Muito bom Toninho!! Os "cabeças" de brage passam, mas as "cagadas" ficam!
Tonhão - 1/9/2017
Realmente Rio Preto e suas lambanças políticas. Isso já acontecia em 1970. 47 anos se passaram e a solução dos problemas está longe , aliás os problemas irão aumentar. O exemplo de hoje é a Ex- praça cívica e vai por ae.