Publicado quarta-feira, 21 de novembro de 2012
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Havia em Rio Preto, uma figura querida, prestativa e até folclórica, chamada Babá Bassitt (já falecido). De família tradicional, Babá, era amante das rodas de carteados (jogos de baralhos) em clubes da cidade.
Ganhava dinheiro, ora vendendo um terreno aqui, um carro usado acolá, uma rifa, um perfume do Paraguay e outras bugigangas.
Certo dia, fui convidado por ele, para uma empreitada: fotografar Rio Preto em cromos (slides) para cartões postais. Sua proposta era de racharmos os gastos da produção e os lucros das vendas.
Desde finais dos anos 1970, quando grandes retratistas da cidade de Rio Preto, como Kharfan, os irmãos Osmar e Miro Manhani, Silvestre, Inocêncio e outros , deixaram de produzir fotos para aquela finalidade, abriu-se uma lacuna na venda do produto na praça. Os cartões que existiam nas bancas, estavam desatualizados.
Devido ao alto custo, o lucro pequeno e grande risco em não sair a contento, me recusei a entrar no negócio.
Com a recusa, Babá correu atrás de outra pessoa para fotografar.
Meses se passaram e de novo Babá surge em meu escritório com os postais já prontos. Se não me falha a memória, eram fotos de seis pontos diferentes da cidade: Represa Municipal, Igreja da Redentora, Centro e outros que não me recordo.
Ao ver os postais, fiquei estarrecido e mudo por alguns segundos. Eram horríveis. Tanto na impressão, quanto nos enquadramentos.
Diante da cena, Babá disse: “gostou ?” Respondi: “mais ou menos”.
Então, retrucou Babá: “tô indo levar nas bancas para expor à venda”. Respondi: “boa sorte, amigo!”.
Após uns meses, recebi uma outra visita. Desta vez, foi do amigo e jornalista Walter do Valle. Amigo de Babá, e também das rodas de carteados. Sua visita, findou em um cafezinho no bar do português.
Não deixando eu pagar a conta, Walter também comprou 2 cartões postais expostos em uma gôndola ao lado do caixa. Eram os tais postais do Babá e gentilmente me presenteou com um da represa.
Ficamos por lá uns quinze minutos e uma outra pessoa, ao pagar a conta, comprou outro cartão. Voltei ao trabalho surpreso com o acontecido. Até me questionei: “será que desaprendi a fotografar? Em vinte minutos foram vendidos três postais. Os mesmos que, tempos atrás, disse que estavam mais ou menos, para não dizer, ruins”.
Semanas se passaram e novamente surge em meu trabalho o Walter do Valle. Ainda encucado com a venda dos postais, lhe perguntei: “O que você viu em especial naqueles postais do Babá Bassitt?”.
A resposta veio seguida de um sorriso: “Babá deixou mais de 1000 postais nas bancas de revistas da cidade durante 30 dias. Não vendeu um sequer. Para não ficar no prejuízo, ofereceu ao português pela metade do preço para ser vendido em seu café.
Ao ver o produto, o português se recusou em compra-los. Então, Babá deixou 100 postais, sem compromisso. O português aceitou a proposta em rachar o lucro, caso os vendessem. Caso não, os devolveria sem prejuízo algum.
No outro dia, Babá distribuiu o valor em dinheiro dos 100 cartões aos amigos de vários carteados para comprarem seus postais no café.
Em três dias, todos cartões foram vendidos. Para criar expectativas, Babá viajou para São Paulo ficando por lá alguns dias.
Ao voltar de viagem, havia dezenas de recados do português para que Babá o procurasse.
Babá foi ao café e vendeu os 900 cartões postais restantes pelo preço real.
Depois disso, os 900 cartões permaneceram meses e meses na gôndola sem interesse algum do público. O português baixo o preço e nada.
Ao saber do fiasco, Babá sumiu do pedaço por um bom tempo e o português “morreu” com 900 cartões postais.